Comprometido com a garantia de direitos femininos neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, e durante todos os dias do ano, o Governo Federal tem mantido o investimento em iniciativas voltadas à promoção de oportunidades para esse público. É o caso do programa Futuras Cientistas, que estimula o contato de alunas da rede pública de ensino com as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, para contribuir com a equidade de gênero no mercado profissional.
O Futuras Cientistas é um “caso de sucesso que atingiu escala nacional”, na avaliação da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, no evento que celebrou o Dia Internacional das Mulheres. “Somos a maioria entre matriculados no ensino superior, mas somos a minoria nas ciências exatas, engenharias e computação. Não podemos nos conformar que 60% das carreiras de iniciação científica são das mulheres, mas no topo da carreira só 35% alcançam as bolsas de produtividade”, sinalizou.
Iniciativa do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o programa realizou a etapa de Imersão Científica 2024, primeiro módulo do programa, entre janeiro e fevereiro. Foram registradas 1.786 inscrições para 470 vagas em núcleos de trabalho de instituições e centros de pesquisa nos 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal.
PRIMEIROS CONTATOS — Rana Maria, de 16 anos, moradora de Olinda (PE) e estudante do 3º ano do ensino médio em uma escola em tempo integral, participou da Imersão Científica neste ano e pôde aprender sobre conteúdos e carreiras científicas. “Quis sair dessa caixinha que colocam a gente de que a área de exatas não é para as mulheres. Quis conhecer a área para analisar as possibilidades que eu tenho”, contou.
“Foi maravilhoso, acima das minhas expectativas. Nunca imaginei ter acesso a um laboratório, conversar com pesquisadores e doutores. Aprendi sobre a convivência com minhas colegas, além da ciência”, comentou Rana.
A Imersão Científica ocorre sempre nos primeiros meses do ano, no período de férias escolares. Nele, as participantes acompanham o dia a dia de laboratórios e centros de pesquisa para melhor compreensão da rotina das cientistas. Ao longo desse período, elas recebem um auxílio de R$ 600, fornecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O próximo edital da modalidade será lançado em julho.
As atividades do programa incluem aulas presenciais e on-line, palestras e feira de profissões. “Consegui ter acesso a informações sobre várias áreas que eu não sabia a diferença, como Ciência da Computação e Engenharia da Computação. Abriu a minha visão para várias profissões que eu não entendia”, relatou a pernambucana.
No ensino superior, a primeira opção dela ainda é cursar Psicologia. Mas depois de participar do programa e observar a rotina das pesquisadoras, ela passou a ter como mais uma opção o curso de bacharelado em Ciências Biológicas.
INGRESSO NA UNIVERSIDADE — Além da Imersão Científica, o programa possui outros três módulos: banca de estudos para o Enem, mentoria e estágio supervisionado para estudantes de graduação. O Futuras Cientistas contribui para motivar meninas e jovens mulheres a ingressarem em cursos e carreiras das áreas das Ciências Exatas, Computação e Engenharias.
Beatriz Alves, que está no 2º período de Física na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou que participar da Imersão Científica e da banca de estudos para o Enem em 2022 — durante o último ano do ensino médio — contribuiu para seu desempenho na prova e lhe deu uma certeza: queria cursar Física. “O programa me ajudou a entender em um nível mais profundo, porque ver na prática me ajudou muito mais do que na teoria e facilitou na hora de fazer a prova”, pontuou.
A aluna de 18 anos relatou que há poucas meninas no centro de exatas da universidade, mas apontou que ter participado do programa e visto a rotina de mulheres cientistas a ajuda a manter a motivação nos estudos. “O Futuras Cientistas foi a primeira comunidade em que pude me apoiar para receber conhecimentos, saber que eu não estou sozinha e que é possível ser cientista, mesmo num meio com maioria de homens”, ressaltou.
Ela pretende seguir estudando após a graduação e deseja desenvolver pesquisas. “Penso em fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado em Física, mais voltada à área de Astronomia”, disse Beatriz.
RESULTADOS — O Futuras Cientistas começou em 2012 e inicialmente atendeu estudantes e professoras da região Nordeste. “O objetivo sempre foi não só aumentar o número de mulheres na área de ciências e tecnologia, mas também deixá-las mais críticas e empoderadas”, disse a diretora do Cetene e criadora do programa Futuras Cientistas, a pesquisadora Giovanna Machado.
Em 2023, o programa passou a ter alcance nacional. “Fizemos um levantamento dos 10 anos iniciais e vimos que 70% das meninas que participavam da banca do programa foram aprovadas no vestibular. Destas, 86% foram para a área de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”, afirmou Giovanna. Em 2023, o Cetene lançou um livro sobre a trajetória do programa.
NOVO EDITAL — Mais uma iniciativa que visa o alcance da igualdade de gênero foi lançada pelo MCTI na quarta-feira, 6 de março, em parceria com o Ministério das Mulheres e o CNPq. Trata-se de um edital de R$ 100 milhões para apoiar projetos que estimulem o ingresso, a formação e a permanência de meninas e mulheres nas Ciências Exatas, Engenharias e na Computação.
A chamada pública tem como público-alvo estudantes do sexo feminino matriculadas no 8º e no 9º ano do ensino fundamental e médio em escolas públicas e em cursos de graduação nas áreas de Ciências Exatas, Engenharias e na Computação. As propostas poderão ser apresentadas até 29 de abril deste ano.
Os recursos vão atender projetos de todas as unidades da Federação. Para reduzir desigualdades regionais, a chamada prevê destinação da parcela mínima de 30% dos recursos para projetos de execução esteja sediada no Norte, Nordeste ou Centro-Oeste. Também prevê que pelo menos 40% das bolsas de Iniciação Científica Júnior (ICJ) deverão ser destinadas a meninas negras e/ou indígenas.
Outras ações destinadas à redução das desigualdades de gênero na ciência são o Prêmio Mulheres Inovadoras, da Finep (que estimula startups lideradas por mulheres) e os editais da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) e das Olimpíadas Científicas, que reservaram vagas para projetos liderados por mulheres.
Foto: Divulgação / Cetene